Como a América Latina pode liderar a produção sustentável de alimentos no contexto da COP28?
A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), realizada em Dubai, destacou a agricultura sustentável como um dos temas centrais. A produção de alimentos sustentável é um dos pilares das discussões globais sobre mudanças climáticas. A #AméricaLatina, reconhecida como um dos maiores fornecedores de alimentos do mundo, tem o potencial de se tornar referência em práticas agrícolas sustentáveis, especialmente no contexto da #COP28, que destaca a transição para sistemas alimentares resilientes e carbono neutro.
O protagonismo agrícola da América Latina
A América Latina é responsável por aproximadamente 14% da produção agrícola global. A região desempenha papel essencial no fornecimento de alimentos como soja, milho, carne e café. O Brasil, por exemplo, é o maior exportador mundial de soja, com uma produção de 154,6 milhões de toneladas em 2023 (CONAB). Já a Argentina destaca-se no mercado de trigo e o México como um dos maiores produtores de abacate.
No entanto, a relevância da região vai além da produção em larga escala. Com sua vasta biodiversidade, terras cultiváveis e potencial para agricultura regenerativa, a América Latina tem vantagens competitivas que podem ser alavancadas para liderar um modelo sustentável.
Agricultura sustentável e as metas da COP28
A #COP28, organizada nos Emirados Árabes Unidos, reforça o compromisso de reduzir emissões de #carbono na produção agrícola. Este setor é responsável por 31% das emissões globais de gases de efeito estufa. Para alinhar-se às metas de redução previstas pelo Acordo de Paris, práticas como agricultura de baixo carbono, sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e uso de bioinsumos são essenciais.
Casos reais de sucesso:
- Brasil e ILPF: atualmente, mais de 20 milhões de hectares no Brasil utilizam o sistema ILPF, que combina produção agrícola, pecuária e florestas de forma integrada. Esta técnica pode reduzir em até 30% as emissões de carbono por hectare.
- Peru e a produção de café sustentável: o país exporta 95% de sua produção de café com certificações como Fair Trade e Rainforest Alliance, demonstrando o compromisso com práticas que protegem o meio ambiente e garantem a qualidade do produto.
- Argentina e biotecnologia: mais de 60% da soja cultivada no país utiliza sementes geneticamente modificadas para maior eficiência no uso de recursos e redução do impacto ambiental.
Inovação tecnológica como aliada
A agricultura de precisão, drones e IoT (Internet das Coisas) estão transformando a forma como os alimentos são produzidos. O uso de tecnologias inteligentes pode aumentar em até 25% a eficiência das colheitas e reduzir em 15% o uso de insumos como fertilizantes e água.
Empresas líderes em soluções tecnológicas para o agronegócio, ajudam a monitorar em tempo real fatores como umidade do solo, clima e saúde das plantas, otimizando recursos e minimizando desperdícios.
Na América Latina, o acesso a tecnologias sustentáveis é promovido por iniciativas como:
- Parcerias público-privadas: programas como o Agro 4.0, liderado pelo Ministério da Agricultura do Brasil, investem em soluções digitais para pequenos produtores.
- Financiamentos verdes: bancos como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) oferecem linhas de crédito específicas para agricultura sustentável.
O impacto social da produção sustentável
Além de benefícios ambientais, a produção sustentável na América Latina também pode gerar impacto social positivo. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o setor agrícola emprega mais de 35% da população rural da região. Adotar práticas sustentáveis significa promover empregos verdes, combater a pobreza rural e fortalecer comunidades.
Exemplos de impacto:
- Certificações e comércio justo: iniciativas de certificação garantem melhores condições de trabalho e aumentam a renda de agricultores familiares.
- Redução de desigualdades: programas de agroecologia no México têm ajudado a empoderar mulheres indígenas, aumentando sua participação no mercado agrícola.
Como a COP28 abordou a questão dos combustíveis fósseis?
A conferência reconheceu a necessidade de reduzir o uso de combustíveis fósseis, mas enfrentou desafios significativos:
- Redução Gradual: o documento final prevê a redução progressiva do uso de combustíveis fósseis, sem mencionar a eliminação total ou estabelecer prazos específicos.
- Transição Energética: o texto enfatiza a necessidade de uma transição justa e equitativa para fontes de energia mais limpas, mas carece de detalhes sobre como essa transição será financiada ou implementada.
Desafios e soluções para alcançar o potencial sustentável
Embora a América Latina tenha oportunidades incríveis, desafios persistem. Problemas como desmatamento, uso excessivo de agroquímicos e acesso desigual à tecnologia ainda ameaçam a sustentabilidade.
Principais desafios:
- Desmatamento: a expansão agrícola ainda é uma das maiores causas de desmatamento na Amazônia, com o Brasil liderando as taxas globais. Em 2022, 11.568 km² foram desmatados.
- Falta de acesso a financiamento: pequenos agricultores frequentemente enfrentam barreiras financeiras para investir em tecnologias sustentáveis.
Caminhos para superação:
- Regulamentações mais rígidas: leis que limitam o desmatamento e promovem a rastreabilidade da cadeia produtiva.
- Incentivos fiscais: governos podem oferecer créditos de carbono para produtores que adotem práticas regenerativas.
- Educação e capacitação: programas como o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) já treinam agricultores para aplicar técnicas modernas e sustentáveis.
Quais foram os principais resultados da COP28?
A COP28 resultou em acordos significativos, incluindo:
- Balanço Global do Acordo de Paris: pela primeira vez, foi realizado um balanço abrangente da implementação do Acordo de Paris, destacando a necessidade urgente de acelerar ações para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
- Redução Gradual dos Combustíveis Fósseis: o acordo final reconheceu a necessidade de uma transição energética, prevendo a redução gradual do uso de combustíveis fósseis. No entanto, não estabeleceu metas específicas ou prazos para a eliminação total desses combustíveis.
- Fundo para Perdas e Danos: foi operacionalizado um fundo destinado a apoiar países em desenvolvimento vulneráveis aos impactos climáticos, com compromissos iniciais totalizando cerca de US$ 700 milhões.
Quais foram as críticas e desafios enfrentados pela COP28?
A conferência enfrentou críticas e desafios notáveis:
- Presidência Controversa: a nomeação de Sultan Al Jaber, CEO da empresa petrolífera estatal dos Emirados Árabes Unidos, como presidente da COP28, gerou preocupações sobre potenciais conflitos de interesse.
- Falta de Metas Claras: o acordo final foi criticado por não estabelecer metas específicas ou prazos para a eliminação dos combustíveis fósseis, sendo considerado vago em alguns aspectos.
Quais compromissos financeiros foram assumidos?
A COP28 resultou em compromissos financeiros importantes:
- Fundo Verde para o Clima: foram prometidos US$ 3,5 bilhões para reforçar o Fundo Verde para o Clima, destinado a apoiar projetos de mitigação e adaptação em países em desenvolvimento.
- Financiamento do Banco Mundial: o Banco Mundial anunciou um aumento anual de US$ 9 bilhões em financiamento para projetos relacionados ao clima em 2024 e 2025.
Conclusão: a América Latina como potência sustentável
A #COP28 é uma oportunidade histórica para a América Latina consolidar seu papel como líder global em produção sustentável de alimentos. Com recursos naturais abundantes, avanços tecnológicos e modelos de sucesso já implementados, a região pode oferecer soluções para os desafios climáticos globais. No entanto, é essencial que governos, empresas e agricultores trabalhem em conjunto para superar desafios e implementar práticas verdadeiramente sustentáveis.
Investir em produção sustentável não é apenas uma necessidade ambiental, mas uma estratégia para garantir a competitividade no mercado global. Como destacou a FAO, a transição para sistemas alimentares sustentáveis é fundamental para alimentar uma população mundial que alcançará 9,7 bilhões de pessoas até 2050.